No Brasil
A Caritas Brasileira é um órgão oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Foi fundada em 12 de novembro de 1956, com o objetivo principal de assumir o recebimento e a distribuição dos mantimentos que vinham dos Estados Unidos por meio do programa Alimentos para a Paz, o qual fazia parte da Aliança para o Progresso, um projeto político executado pelo então governo estadunidense.
Devido às dificuldades logísticas da época para distribuição dos alimentos, em 1961 a Caritas Brasileira criou 10 escritórios regionais, os quais passaram a trabalhar em cooperação com as dioceses na distribuição das cotas de alimentos. Quando o governo norte-americano parou de enviar ajuda (entre 1966 a 1974), muitas dessas unidades foram fechadas.
Mas foi a partir desse desafio que a Caritas Brasileira renasceu, ressignificando sua missão, deixando de oferecer uma assistência social em sua forma simples para se consolidar como um organismo fomentador da educação de base e promoção humana. Assim, a Caritas Brasileira sentiu-se mais alinhada às orientações do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín (do Episcopado Latino-americano).
Na década de 1980, a Caritas Brasileira estava plenamente articulada com as Comunidades Eclesiais de Base e organismos e pastorais sociais, que mantinham em conjunto novas metodologias de ação e a proposta de estudar a realidade socioeconômica brasileira.
Nos anos 1990, lançou os chamados Projetos Alternativos Comunitários (PACs) e assumiu uma liderança ativa em relação às pastorais sociais. Presentes nas cinco regiões do país, os PACs contribuíram para formar uma rede de economia popular solidária, com geração de trabalho e renda.
Sediada em Brasília, a Caritas Brasileira congrega 178 entidades-membros, 12 regionais e coordena uma rede solidária de mais de 15.000 agentes, na maioria voluntários. Faz parte da rede da Cáritas Internationalis.
Caritas Arquidiocesana de São Paulo
Os primórdios da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) surgiram no contexto do período em que a Caritas Brasileira organizou os escritórios regionais para facilitar a distribuição dos alimentos que chegavam dos Estados Unidos. A regional criada em São Paulo também fazia o papel de uma Caritas para a Arquidiocese de São Paulo, organizada pelos padres Oblatos de Maria Imaculada, que eram de origem norte-americana. Durante mais de uma década, eles foram os responsáveis pela administração e operação da unidade.
Em 1967, Dom Agnelo Rossi, então cardeal arcebispo de São Paulo, optou por trazer a Caritas Arquidiocesana para a administração direta da Arquidiocese. A intensão dele era expandir o escopo de atuação, o que significava também a abertura de novos horizontes para a Caritas em suas atividades de promoção humana.
A partir dessa decisão, a CASP passaria a ser a responsável pela coordenação das atividades de todas as entidades beneficentes, de orientação ou inspiração católica, localizadas dentro dos limites da Arquidiocese.
Dom Agnelo Rossi convocou e presidiu uma Assembleia Geral Extraordinária em 1º de dezembro daquele ano, com a finalidade de estabelecer um estatuto para dar personalidade jurídica para a Caritas Arquidiocesana, refletindo o novo modelo de entidade que ele queria imprimir.
No estatuto, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo foi especificada como entidade beneficente, de fins assistenciais e não lucrativos, com sede na cidade de São Paulo. Embora fosse juridicamente autônoma, a CASP passou a ser parte integrante do Conselho de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, dirigindo a Ação Social da Igreja.
Para o cargo de diretor, foi nomeado o Pe. Luciano Túlio Grilli. Também compuseram a primeira diretoria Geraldo Dias Moreira (secretário-executivo), Wellington Moreira Santos (tesoureiro) e Hilda Zanini Turano (coordenadora-geral).
À época, Dom Paulo Evaristo Arns era Bispo Auxiliar de São Paulo, responsável pela Região Episcopal de Santana, com atuação intensa na área social, principalmente às necessidades da população mais carente.
Importante salientar que a forma como a Caritas Arquidiocesana de São Paulo passou a exercer o seu papel estava em consonância com as diretrizes do Concílio Vaticano II, que mudaram a forma como a Igreja deveria se relacionar com a sociedade. O serviço social visando à caridade deixaria de ser centralizado em atividades assistencialistas para priorizar o desenvolvimento integral da pessoa humana, a partir do reconhecimento e respeito pela sua eminente dignidade.
Em 1º de novembro de 1970, Dom Paulo Evaristo Arns assumiu a Arquidiocese de São Paulo seguindo os passos do Concílio Vaticano II. Tanto que a Campanha da Fraternidade de 1972 teve como lema “Descubra a Felicidade de Servir”, com o objetivo de “motivar fortemente o povo para descobrir, na mentalidade de serviço, a mensagem da fraternidade, como fonte de felicidade”.
Imbuído desse espírito e com o sentido de urgência para oferecer uma pronta resposta ao apelo da parcela mais carente da população, ele lançou, em outubro do mesmo ano, a Operação Periferia, implantada com apoio da CASP, de padres e representantes das nove regiões que compunham a Arquidiocese naquela época.
A Operação Periferia teve seus trabalhos iniciados em outubro de 1972, absorvendo toda a atenção da Arquidiocese por seu caráter de atender às pessoas mais necessitadas. O propósito era mostrar que também era possível formar uma versão urbana das Comunidades Eclesiais de Base, assim como existia nas áreas rurais, onde a Igreja ficava mais próxima da comunidade mais pobre.
Com o objetivo de espraiar o projeto por toda a cidade, Dom Paulo Evaristo Arns vendeu, em 1973, o Palácio Episcopal Pio XII, a fim de obter recursos para levantar paróquias e fazer o trabalho pastoral nas periferias. Contudo, Dom Paulo mudou os planos incluindo uma novidade no projeto: a construção de Centros Comunitários, um espaço de encontro com o povo.
Por meio dos Centros Comunitários, dentro da Operação Periferia, foram revelados os problemas reais do povo mais carente e suas prioridades. Esse projeto contribuiu para transformar São Paulo, que, à época, tinha oito milhões de pessoas morando nas periferias.
Nos primeiros anos da década de 1970, a Operação Periferia foi progressivamente firmando um jeito novo de organizar o trabalho pastoral, a partir da metodologia “ver, julgar e agir”. Foi sob esse lema que a Arquidiocese de São Paulo organizou o seu trabalho.
Direitos humanos, o mundo do trabalho e as favelas estavam no centrodos trabalhos das pastorais. Diante da importância dessas ações, entre 1974 a 1976 surgiram os Bispos Auxiliares. Depois, a Operação Periferia passou a chamar-se Pastoral da Periferia, com cada Região tendo a sua.
Entre 1976-1977 começou a vigorar o 1º Plano de Pastoral, com o objetivo de atingir, pelo Evangelho, todos os homens dentro de sua realidade, levando-os a diversas formas de participação na comunicação eclesial e de solidariedade humana”. O foco da Igreja em São Paulo era zelar pelas pessoas mais necessitadas.
Nos moldes da CNBB, os planos fixavam, a cada dois anos e, depois, a cada quatro, objetivos e prioridades às pastorais, para garantir a eficácia e unidade pastoral evangelizadora.
Todas as ações sob o pastoreio de Dom Paulo Evaristo Arns são reflexo do momento que a Igreja vivia: a Teologia da Libertação e a opção preferencial pelos pobres, um período de renovação da teologia bíblica e de distanciamento do poder político.
Reorganização da CASP
No início de 1987, diante de todas as mudanças que vinham acontecendo, quando instituiu o 5º Plano de Pastoral (1987-1990), Dom Paulo Evaristo julgou oportuno reorganizar a Caritas Arquidiocesana de São Paulo, a fim de que esse organismo pudesse cooperar ativamente em toda ação evangelizadora e pastoral que a Arquidiocese vinha exitosamente desenvolvendo.
Para Dom Paulo Evaristo, a CASP tinha uma vocação específica: “Nós temos a felicidade única de viver neste tempo. A Cáritas foi criada por uma intuição de Paulo VI comunicada ao Papa Pio XII, para as emergências do mundo… (sic). Em muitos países, as emergências são constantes e profundas, atingem quase todos os homens ou, às vezes, a maioria deles, como acontece no terceiro mundo, como acontece no Brasil. Vivemos a emergência, portanto, precisamos da Cáritas”.
Para conceber a nova organização da CASP, o Arcebispo chamou uma pessoa de cada região. Pe. Ubaldo Steri compareceu como representante da Região Ipiranga ao lado de Dom Francisco Manuel Vieira, que era Bispo administrador da Cúria (depois nomeado Bispo de Osasco), e um advogado da Cúria. Juntos, eles elaboraram o novo estatuto.
A nova organização da Caritas Arquidiocesana de São Paulo tornou-se realidade em setembro de 1987, com o propósito de incentivar, dar conteúdo, formação, espírito às pastorais sociais, sendo coerente com a realidade que a Arquidiocese vivia. Portanto, o foco da Caritas seria no trabalho social, centrando-se na assistência e promoção social e libertação.
A primeira diretoria da CASP, formada em 1989, era composta por Pe. Ubaldo como diretor, Pe. Júlio Lancelotti como vice-diretor
e José Maria como tesoureiro.
Inicialmente, eles ocupavam duas salas no Palacete do Carmo, na Rua Venceslau Brás; o resto do prédio era ocupado por comerciantes, que deixaram o local com o passar dos anos. Assim, a CASP expandiu suas atuações, com objetivos amplos, condizentes com a realidade social daqueles anos.
Projetos Alternativos Comunitários
Dentro dessa nova organização, nos primeiros anos a Caritas Arquidiocesana de São Paulo deu partida nos ambiciosos Projetos Alternativos Comunitários, com o objetivo específico de criar fontes de trabalho alternativo, gerando emprego e renda às populações necessitadas.
A iniciativa deveria partir de grupos organizados, de famílias da comunidade, por meio de projetos voltados para a formação, capacitação profissional, produção, geração de trabalho e renda, que seriam submetidos à análise pela organização para verificação da sua
viabilidade.
A Caritas Arquidiocesana de São Paulo entendia que a forma de implantar e operacionalizar esses projetos alternativos continha em si uma pedagogia de ação social não paternalista, mas sim emancipadora para uma cidadania ativa, tanto profissional quanto política. Por isso, eles dariam concretude às três dimensões fundamentais da atividade caritativa-assistencial, promocional e libertadora, que a Caritas pretendia privilegiar em sua ação pastoral.
Serviço de Acolhida e Orientação para Refugiados
A Igreja de São Paulo exerce um papel significativo na defesa dos direitos humanos e luta por políticas sociais boas para a sociedade. Nesse esforço, sempre incentiva o envolvimento de vários setores afins. Por meio de seus organismos e instituições, tenta unir os cristãos para o serviço solidário, ao mesmo tempo em que aponta propostas para minimizar os males que afligem os mais fragilizados.
A CASP é a entidade da Igreja de São Paulo que cuidou dos primeiros passos da assistência aos refugiados. Começou em 1977, por intermédio da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.
Em 1989, mediante um convênio com o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), criou o Centro de Referência para Refugiados, hoje denominado SAOR (Serviço de Acolhida e Orientação para Refugiados), passando a integrar a rede de proteção do ACNUR, cujo objetivo é oferecer acolhimento, proteção e assistência a pessoas em situação de refúgio no país, visando as suas integrações na sociedade brasileira.
Esse serviço esteve presente nos Planos de Pastorais da Arquidiocese de São Paulo, alertando que o atendimento ao refugiado ou solicitante de refúgio no país é parte das prioridades da ação pastoral da Igreja de São Paulo.
Recentes desafios da CASP
Por 21 anos, a CASP teve como diretor Pe. Ubaldo Steri (1989-2010), sendo sucedido por Pe. Marcelo Monge (2011-2013 e 2014-2016). Na sequência, Pe. Marcelo Maróstica Quadro assumiu a direção (2017-2019 e 2020-2022).
Ao longo desse tempo, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo enfrentou uma série de desafios, mas também obteve muitas conquistas, como mudanças de sede, reorganização dos serviços, formação e fortalecimento dos Núcleos Regionais (Belém, Brasilândia, Ipiranga, Lapa, Santana e Sé).
Esse conjunto propiciou à Caritas Arquidiocesana de São Paulo ser reconhecida como referência na ação caritativa para toda a Igreja de São Paulo.
Assim, a CASP converge sua ação com sua missão: ser o braço estendido da Igreja Arquidiocesana de São Paulo no serviço de sensibilização, animação, articulação e promoção da caridade, refletindo com a sociedade sobre ações transformadoras que lhe propiciem maior justiça social.
Nas palavras de Papa Francisco, a “Caritas é a carícia da Igreja para o seu povo” e “o amor dentro da Igreja-mãe que se aproxima, abraça e ama” as pessoas.
Segundo o Papa, a ação social e mística da Caritas tem duas dimensões: a primeira, de caráter espiritual, que envolve “dar de si mesmo, saindo para fora de si mesmo”, e uma segunda, própria do cumprimento de seu trabalho, que é “estar a serviço contínuo de pessoas que vivem em situações extremas, ambas dando testemunho da ternura e compreensão pelas pessoas mais necessitadas”.
Assim, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo vem cumprindo a sua missão para promover o desenvolvimento humano integral, de forma que as pessoas mais necessitadas sejam livres para prosperar e viver em paz, tendo reconhecida a sua dignidade e sendo protagonistas em uma comunidade sustentável e responsável pelos rumos que afetam diretamente sua integração ao convívio respeitoso com toda a família humana.
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