A arte de promover o Bem Comum na região da Brasilândia

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Parceria da Caritas Arquidiocesana de SP com as paróquias São Francisco de Assis e Imaculado Coração de Maria leva esperança a moradores da região

Elaine Regina Ferreira, 53 anos, abraça com todo carinho a professora Aydil Santos, 45, durante a entrega do diploma da Formação Básica em Confeitaria, do Projeto Arte de Cozinhar e Promover, uma parceria da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) com as paróquias São Francisco de Assis e Imaculado Coração de Maria, Decanato São Filipe.

Moradora do Jardim Guarani, no distrito da Brasilândia, zona norte da capital paulista, Elaine é divorciada, cuida da mãe cadeirante e participou dos outros módulos do curso Arte de Cozinhar e Promover, que incluiu pães e doces.

Para participar das aulas que aconteciam no salão da Paróquia Imaculado Coração de Maria, às segundas e quartas-feiras de manhã, ela caminhava 10 minutos. O trajeto, segundo ela, era feito com alegria, pois via na formação uma chance de fazer um dinheirinho extra e descansar um pouco a cabeça dos cuidados com a mãe. “Amei o curso! Como cuido de minha mãe o tempo todo, eu não posso trabalhar fora. Então eu quero ver se consigo montar um negócio próprio”, projeta Elaine, que faz outros trabalhos manuais, como bordado e crochê.

Dona Maria Aparecida, 72, colega de Elaine na turma, é aposentada, mora com a filha, que é catequista na Igreja, e já vendeu bolo de pote antes de fazer o curso. “Achei muito bom, porque o curso aprimora a técnica e o empreendedorismo”, diz.

Assim como dona Maria, o grande desafio das alunas era fazer com esmero a cobertura dos bolos. Mas eram sempre motivadas pela professora Aydil, uma técnica em nutrição que foi encorajada pelo Padre Gutemberg Pereira, pároco da São Francisco de Assis, a abraçar o projeto.

Além do Arte de Cozinhar e Promover, a Paróquia Imaculado Coração de Maria promoveu os cursos Notas e Sons, com aulas de violão dadas pelo professor Paulo Sérgio Ferreira, e Presente Digital: Assistente Virtual, ministrado pela professora Karen Lima Piasentim.

Os alunos das três iniciativas receberam seus diplomas na missa de ação de graças realizada no sábado, 13/7, presidida pelo Padre Gutemberg e concelebrada pelo Padre Dorival Ferreira Leite, com a assistência do Diácono Márcio José Ribeiro, diretor da CASP. O diretor-tesoureiro da entidade, Fábio Krubiniki, também esteve presente na cerimônia, onde reforçou o amor ao próximo nas ações da CASP.

Na missa, os alunos do Notas e Sons acompanhavam o professor Paulo Sérgio ao violão e nos cânticos da celebração. Depois da missa, houve uma confraternização no salão paroquial com os quitutes feitos pelas alunas do curso.

O começo de tudo

O pontapé para o início dos projetos foi dado por Dom Carlos Silva, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo para a Região Episcopal da Brasilândia, que procurou o Padre Gutemberg para que viabilizasse alguma iniciativa na região, uma das mais carentes e populosas da cidade de São Paulo, com pouco mais de 240 mil habitantes e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,769 (em uma escala de zero a 1, é considerado médio).

“Eu estava em casa, quietinho, quando Dom Carlos me procurou, pois ele sabe que minha área de especialidade é a promoção humana”, diz Padre Gutemberg, que está à frente do Anjos da Missão Vicentina, um movimento criado por ele durante uma missão com a população carente de Moçambique, na África, onde morou por alguns anos.

Na missão em Moçambique, ele conheceu Sandra Vilela Eleutério, 42, uma ex-Irmã da Congregação São José de Chambéry, que acabou virando coordenadora dos projetos na Brasilândia.

Quando o projeto começou a ser estruturado, Padre Gutemberg procurou a Caritas Arquidiocesana, por intermédio do Diácono Francisco Nunes Pereira, coordenador do Núcleo Regional Brasilândia da CASP, para dar o apoio financeiro. “Um dos segredos do projeto é contratar profissionais, pois não dava para ser um projeto só com voluntários, pois nem todos podem estar disponíveis o tempo todo. Nosso foco era contratar uma equipe para ficar à frente”, explica Padre Gutemberg.

Sandra, por exemplo, está à frente da gestão, administrando tudo, tomando conta da equipe e elaborando os relatórios de prestação de contas.

Além disso, a equipe vai atrás dos profissionais que darão os cursos e que motivarão os alunos a continuar. “O professor de violão, por exemplo, tem não só a técnica, mas o dom de lidar com os alunos. A metodologia faz muito sucesso com as crianças. Temos ainda um aluno com deficiência visual, um com Transtorno de Espectro Autista…”, diz Padre Gutemberg, reforçando que os profissionais são da região e, por isso, conhecem a realidade local.

Autoestima

Com a experiência de quem passou seis anos em missão em Moçambique, Sandra tem expertise para lidar com pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica. Segundo ela, os cursos são muito mais do que iniciativas para apoiar essas pessoas a encontrarem uma forma de sobreviver por conta própria.

“Algumas dessas pessoas vêm de longe para fazer os cursos, então nós temos que apoiá-las com transporte. O problema é que, dependendo de onde é, não há transporte público disponível. Mas, apesar de todas as dificuldades, no curso de confeitaria, por exemplo, só uma pessoa desistiu porque conseguiu emprego”, afirma.

Os cursos, de acordo com Sandra, também contribuem para promover aspectos mais subjetivos. Ela conta, por exemplo, que uma das alunas chegava, mal conversava e, com o passar do tempo, foi se soltando e interagindo com as demais alunas até começar a sorrir. Outra havia perdido o marido, estava sem ânimo de sair de casa e encontrou no curso um espaço de acolhimento.

“Aqui é possível ver resultados palpáveis. O que significa estar aqui para muitas delas? É sair de casa, fazer algo diferente, ouvir o outro dizer que o trabalho ficou bom. Isso aumenta a autoconfiança – elas se sentem mais confiantes para fazer”, conta.

A própria Sandra diz que aprende muito todos os dias com os alunos. “Essas pessoas sempre trazem uma bagagem de experiência de vida e superação.”

No último dia de aula do módulo de bolos, ocorrida em 26 de junho, a professora Aydil estava feliz de ver o resultado de seu trabalho com as alunas: três bolos lindos, feitos com muito capricho por elas.

“Eu frequento a paróquia do Padre Gutemberg. Levei um bolo de boas-vindas para ele, que amou”, diz Aydil, que ficou meses afastada da profissão devido a problemas pessoais. Ou seja, o projeto foi também para ela uma oportunidade de recomeçar.

Sobre a experiência, ela enfatiza que “transferir conhecimento para outro ser humano é um processo bastante complexo”. “Para mim foi um grande desafio. Eu tinha muitas dúvidas se conseguiria passar meu conhecimento”, diz.

Sucesso

Vendo o sucesso dos projetos na Paróquia São Francisco de Assis, Padre Dorival quis levá-los para a sua paróquia, a Imaculado Coração de Maria. “Quando cheguei aqui, em 2021, estava tentando ver as necessidades, as demandas sociais dentro daquilo que envolve a promoção da pessoa humana, que não é somente a atividade que gera renda”, explica Padre Dorival.

Foi assim que os projetos foram chegando, com o Arte de Cozinhar e Promover, o de Assistente Virtual, inicialmente formatado para ajudar mulheres com filhos e que, por isso, não podiam sair para trabalhar porque não tinham com quem deixá-los. Contudo, o projeto acabou abrangendo outros públicos, como mulheres que gostariam de ajudar a impulsionar pequenos negócios de seus maridos.

Houve ainda demanda daqueles que queriam aprender a cantar ou tocar violão, mas não podiam se inscrever em uma escola.

Além de atrair a comunidade para mais perto da Igreja, a satisfação de Padre Dorival é ver a alegria nos rostos das pessoas. “Para mim, a maior devolutiva é ver que elas se sentem capazes de fazer aquilo que elas já viram alguém fazer na televisão, dizendo que agora também sabem, porque aprenderam a técnica”, celebra.

Missão Caritas

O Diácono Márcio José Ribeiro reforça que os projetos da CASP na região, por meio do Núcleo Regional Brasilândia, convergem com a missão da entidade, de buscar promover os irmãos e irmãs em situação de vulnerabilidade social e econômica, encorajando-os para que sejam agentes de sua própria história.

“Falar da Caritas é falar da Igreja. Caritas vem do latim, que significa caridade, que é amor. É no amor que tudo se realiza, é no amor que tudo na Igreja acontece, é no amor que nosso compromisso cristão se justifica e se faz presente no caminhar da Igreja”, diz.  

Segundo o Diácono, está no escopo de atuação da CASP incrementar cada vez mais os projetos da entidade por meio de seus Núcleos Regionais (Belém, Ipiranga, Lapa, Santana, Sé, além da Brasilândia), como forma de acolher e atender aos irmãos e irmãs fragilizados socialmente da cidade de São Paulo.

A propósito dos cursos na Brasilândia, o projeto deu tão certo que novas turmas para as três iniciativas estão com inscrições abertas.
Mais informações podem ser obtidas no tel./WhatsApp: (11) 97602-9850, com Sandra.

CURSOS
Arte de Cozinhar e Promover
Início: 2023, ensinando alunos e alunas técnicas na elaboração de doces, pães e bolos
Alunos atendidos: 43
Presente Digital – Assistente virtual
Início: 2024, com o objetivo de ensinar os participantes a usarem as redes sociais para fomentar pequenos negócios, com foco nas mães-solo
Alunos atendidos: 12
Notas e sons: Violão
Início: 2024, com intuito de promover arte, criatividade, comunicação e convivência
Alunos atendidos: 32, entre crianças, jovens e adultos

Você pode apoiar esses e outros projetos da Caritas Arquidiocesana de São Paulo. Saiba como entrando em contato com nossa Mobilizadora de Recursos Sandra Dias no telefone/WhatsApp (11) 97457-2477 ou por e-mail: sandradias@caritassp.org.br

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