Refugiados, migrantes e apátridas tiveram a oportunidade de escolher, no sábado (24/2), três propostas dentro do tema moradia que serão levadas para a II Comigrar (Conferência Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia), que acontece nos dias 7, 8 e 9 de junho de 2024, em Foz do Iguaçu, Paraná.
A votação ocorreu durante a Conferência Livre Local organizada pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP), no Centro Pastoral São José, no Belenzinho, na zona leste de São Paulo, com o tema: “A Moradia como um Direito Social: discutindo questões habitacionais com refugiadas, refugiados e migrantes no município de São Paulo”.
Além de refugiados, migrantes e apátridas, a Conferência contou com as participações de representantes da Secretaria da Justiça e Cidadania do governo de São Paulo, do CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), CRAI (Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes), Sefras – Ação Social Franciscana, entre outros organismos ligados ao tema refúgio, migração e moradia.
A equipe da CASP dividiu o debate em dois auditórios, sendo um em língua portuguesa e outro em língua inglesa, para que todos e todas pudessem participar do modo mais democrático possível das discussões.
Foram elaboradas seis propostas. As três mais votadas (saiba quais são abaixo) serão levadas à II Comigrar.
Há mais de 10 anos no Brasil, o congolês Jean Katumbareforçou a questão da integração em sua fala. “Se o Brasil não tiver uma política para integrar o migrante, ele sempre vai ser visto como um ‘hotel’, um local de passagem. Por isso, temos que definir muito bem o que temos e o que queremos. O imigrante quer se integrar e o acolhimento começa no ‘onde ficar’?”, pontuou.
A advogada Catia Kim, coordenadora de projetos sociais do ITTC (Instituto Terra Trabalho e Cidadania), destacou para a importância de o governo brasileiro ter um monitoramento de dados e que estes sejam qualificados sobre a população que migra para o país. “Precisamos cobrar do governo federal uma política pública mais focada para a população migrante, que não é única – ela é diversa. Há uma tendência de colocá-la em um grupo como se fosse homogênea, mas não é”, observou.
Conheça as propostas aprovadas e o que acontece a partir de agora
Das seis propostas construídas pelo público participante, três foram escolhidas por votação. São elas:
- i) Elaborar um Plano Nacional de Habitação específico para pessoas refugiadas, migrantes e apátridas, com respeito à diversidade e diferentes complexidades vivenciadas por este público ao chegar, se instalar e permanecer no Brasil. O plano deverá contar com previsão orçamentária pelo Governo Federal e compartilhamento de responsabilidades e atribuições entre União, estados e municípios. Igualmente, a proposta deve dialogar com as demais políticas de assistência social já existentes, garantindo a tipificação de abrigos, a criação de moradias populares e a regularização fundiária de imóveis ocupados por pessoas refugiadas, migrantes e apátridas.
- ii) Flexibilizar documentos para que refugiados, migrantes e apátridas tenham a garantia do acesso ao financiamento de imóveis e outros bens, assim como outras políticas habitacionais, em igualdade aos brasileiros. Em complemento, programas de capacitação técnicas de servidores, terceirizados e empresas privadas sobre regularização migratória e documental. Trata-se de uma medida que visa a garantir a plena integração de refugiados, migrantes e apátridas no Brasil, sem qualquer tipo de discriminação relacionada à etnia, gênero, nacionalidade e condição documental. iii) Criar uma política de levantamento, produção e monitoramento de dados do Plano Nacional de Habitação, na qual União, estados e municípios compartilhem responsabilidades e atribuições, com periodicidade mínima de 01 (um) ano. Além disso, atuar conjuntamente na efetivação das atividades desenvolvidas para a garantia do acesso à habitação, em diferentes níveis, às pessoas refugiadas, migrantes e apátridas.
O analista de informações do SAOR (Serviço de Acolhida e Orientação para Refugiados) da CASP Victor Felix, que esteve à frente da organização da Conferência, lembrou que as propostas serão agora encaminhadas ao Governo Federal, a fim de que sejam discutidas na II Comigrar.
Debate importante
Os oficiais de elegibilidade do CONARE-SP Juliana Bueno e Fernando Farias representaram o colegiado, no qual a Caritas Arquidiocesana tem assento com direito a voto, e elogiaram a iniciativa.
“Foi uma experiência muito interessante de observar. Houve bastante espaço para que eles fossem instigados a questionar as políticas que dizem respeito diretamente às suas vidas”, disse Fernando.
“É importante que eles se vejam como protagonistas ao pensarem a integração deles no Brasil. O habitar traz perspectivas diferentes, conforme a nacionalidade e a interculturalidade”, refletiu Juliana.